segunda-feira, 9 de agosto de 2010

O nascimento da Antropologia G7

A Antropologia é uma ciência que nasceu na Europa, na segunda metade do século XIX. Seu nascedouro correspondeu à expansão imperialista europeia sobre o continente africano. Os contrastes entre povos africanos e nações europeias contribuiram para estudos comparados à luz de teorias biológicas evolucionistas. Tais estudos se constituíram como a base de uma antropologia conhecida por Física. O contato com os povos africanos também foi instigante para os estudiosos da vida social, pois esses grupos não possuíam língua escrita, daí a necessidade de uma nova ciência para compreendê-los. Com ausência de uma cultura escrita, os antropólogos foram obrigados a descobrir outras maneiras de entender essa realidade social.

Antropologia"Ciência social que estuda as manifesta-ções culturais dos grupos humanos, assim como a origem e a evolução das culturas. São objeto de estudo da Antropologia a organização familiar, as religiões, a magia, os ritos de ini-ciação dos jovens, o casamento etc. A palavra antropologia – do grego antropus, homem, e logia, estudo – significa eti-mologicamente a ciência do homem. Divide-se em Antropo-logia Física, Antropologia Social ou Cultural e Antropologia Filosófica."

OLIVEIRA, Pérsio Santos de. Introdução à Sociologia. 25. ed. São Paulo: Ática, 2004, p. 240.

Entretanto, podemos apontar o nascimento de uma reflexão pré-antropológica que data da época da chegada dos europeus à América, que eles chamaram de “Novo Mundo”. A expansão ultramarina europeia dos séculos XV e XVI possibilitou o contato do homem europeu com culturas e povos totalmente distintos. Alargou-se a experiência da alteridade, ou seja, o conhecimento do “outro’’, o “outro’’ como sendo o diferente, o exótico, o atípico e o “não familiar”.

Os primeiros contatos fizeram surgir posições e comentários diversos, às vezes exaltando o estranho, às vezes diminuindo-lhe a importância. Opiniões desse caráter foram comuns nos séculos XVI, XVII e também no XVIII. O contato com outras culturas sempre foi marcado por considerações duplas e relativas: às vezes trata-se o índio – no caso brasileiro – como um ser agradável, ingênuo e solidário; às vezes ele pode ser classificado como um ser próximo da animalidade da natureza. Num momento existe uma exaltação do “outro’’; em outro momento existe uma depreciação desse “outro”.

Vejamos o exemplo de Hans Staden, um alemão que esteve na América portuguesa no século XVI e acabou prisioneiro de uma tribo tupinambá, na região do atual litoral de São Paulo. Sobre os nativos que conheceu, ele escreveu: “São ociosos, preguiçosos, de pouco trabalho, melancólicos, covardes, sujos, de má condição, rústicos, bestiais e vegetam como a umidade dos trópicos, são infelizes, pois vivem na escuridão das florestas”.

Um ritual antropofágico observado por Figura 6.1. Hans Staden (no alto da imagem, de barba).

Enquanto Staden manifesta uma visão “negativa” a respeito dos nativos, o padre espanhol Bartolomé de Las Casas, integrante da Ordem dos Dominicanos que viveu na América, escreveu sobre eles: “as pessoas aqui são nuas, bonitas, de pele escura e corpo elegante, são mansos e vivem em condições de igualdade, são cordiais e amáveis”.

Bartolomé das Las Casas é considerado um dos Figura 6.2. primeiros europeus defensores dos nativos da América.44
Entretanto, não podemos nos esquecer de que os representantes da Igreja Católica, fossem eles dominicanos, jesuítas ou quaisquer outros, mesmo preocupados em defender os índios, compactuavam a ideia de convertê-los em católicos, o que impunha aos nativos um processo de negação de suas crenças, ou seja, uma aculturação.

Na tentativa de fazer prevalecerem os valores católicos europeus sobre os nativos da América, ocorreu aquilo que chamamos de etnocentrismo, ou seja, a cultura europeia foi colocada no centro como a única correta, sendo imposta então aos povos ameríndios. Por etnia podemos considerar exatamente o conjunto de valores e crenças (a cultura) manifestado por um determinado povo. Por se tratar de uma imposição feita pelo dominador sobre o dominado, o etnocentrismo gerou situações de discriminação e preconceito étnico, o que, infelizmente, pode ser presenciado em nossa realidade social até os dias atuais. Por se tratar de um etnocentrismo específico da visão europeia, podemos classificá-lo como eurocentrismo.

Até o século XIX, as considerações pré-antropológicas só conseguiram emitir conceitos desse tipo, às vezes subjugando e inferiorizando as culturas diferentes, às vezes elevando e exaltando a condição cultural do desconhecido, ainda que a primeira visão prevalecesse sobre a segunda. Foi sob esse olhar que a Antropologia se estabeleceu como ciência no século XIX: muito mais afirmando do que negando as proposições preconceituosas da pré-antropologia.

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