segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Cultura e sociedade G7

A palavra “cultura” tem múltiplos significados dentro do nosso idioma. Um deles é cultura enquanto plantação, como, por exemplo, cultura de arroz. Cultura, neste caso, vem do verbo cultivar. Outra concepção para cultura é enquanto sinônimo de erudição. Erudição é a característica de pessoas detentoras de vasto e profundo conhecimento em diversos assuntos. Dessa maneira, podemos nos referir a esses indivíduos como cultos. Mas, a princípio, tal ideia de cultura ainda não nos dá o sentido sociológico que buscamos apreender. Afinal, qual o significado de cultura que nos interessa então? Para as Ciências Sociais, cultura diz respeito a toda manifestação material e não-material de um povo ou grupo social. Logo, cultura é tudo aquilo que passa pela ação do trabalho humano, através do qual somos capazes de transformar a natureza. Sendo assim, toda produção, seja ela material (artesanato, comidas, roupas, moradias, ferramentas, entre outros) ou não material (linguagem, histórias, ideias, projetos, entre outros) é não natural ou cultural. Em suma: cultura é toda manifestação humana proveniente do trabalho, que é a maneira por excelência de explorar a natureza e obter a subsistência.

Além dessa concepção importante para nós, temos outra que é de cultura como parte de uma sociedade ou povo, ou seja, um povo ou nação possui manifestações típicas de sua cultura. No caso do Brasil, temos vários exemplos, desde os mais estereotipados, como o carnaval, o futebol e o celebrado “jeitinho brasileiro”, passando pelos menos percebidos, como a nossa alegria de viver, o descaso com horários, regras e convenções e a informalidade nas mais diversas relações sociais. Tal ideia de cultura contempla também a ciência ou a produção artística, como a telenovela – exemplo mais notório dos últimos quarenta anos.

A função da cultura é tornar a vida segura e contínua para a sociedade humana. Ela é o “cimento” que dá unidade a um certo grupo de pessoas que divide os mesmos usos e costumes, os mesmos valores.Desse ponto de vista, portanto, podemos dizer que tudo o que faz parte do mundo humano é cultura e que todos nós somos cultos, pois dominamos a cultura do nosso grupo, seja ele urbano ou rural, indígena ou de outra etnia, de uma ou de outra crença religiosa ou de qualquer outro tipo.

ARANHA, M. L. A., MARTINS, M. H. P. Temas de Filosofia. 3. ed. São Paulo: Moderna, 2005, p. 21.

A diversidade cultural é um fato relativo à própria espécie humana, que, através do surgimento e da formação de sociedades variadas, tem produzido uma série de culturas diferentes. Por exemplo, não exageramos ao afirmar que existe uma cultura latino-americana, mas é errôneo pensar que as realidades distintas, como a brasileira, a mexicana e a argentina, possam expressar culturas iguais. Sem dúvida, existem muitas semelhanças, mas, em meio a um processo de globalização e padronização cultural, as culturas das sociedades modernas buscam preservar suas particularidades culturais, como se isso fosse, mais que uma resistência, uma forma de preservação de identidades.

Atividade Sugerida

Forme um pequeno grupo com seus (suas) colegas de sala para ler o texto e, a seguir, fazer o levantamento de exemplos dos dois tipos de concepções de cultura apresentadas pelo autor.As duas concepções básicas de culturaAs várias maneiras de entender o que é cultura derivam de um conjunto comum de preocupações que podemos localizar em duas concepções básicas.A primeira dessas concepções preocupa-se com todos os aspec-tos de uma realidade social. Assim, cultura diz respeito a tudo aquilo que caracteriza a existência social de um povo ou nação, ou então de grupos no interior de uma sociedade. Podemos assim falar na cultura francesa ou na cultura xavante. Do mesmo modo falamos na cultura camponesa ou então na cultura dos antigos astecas. Nesses casos, cultura refere-se a realidades sociais bem distintas. No entanto, o sentido em que se fala de cultura é o mes-mo: em cada caso dar conta das características dos agrupamentos a que se refere, preocupando-se com a totalidade dessas caracte-rísticas, digam elas respeito às maneiras de conceber e organizar a vida social ou a seus aspectos materiais.(...) Vamos à segunda. Neste caso, quando falamos em cul-tura, estamos nos referindo mais especificamente ao conheci-mento, às ideias e crenças, assim como às maneiras como eles existem na vida social. Observem que mesmo aqui a referência à totalidade de características de uma realidade social está presente, já que não se pode falar em conhecimento, ideias, crenças sem pensar na sociedade à qual se referem. O que ocor-re é que há uma ênfase especial no conhecimento e dimensões associadas. Entendemos nesse caso que a cultura diz respeito a uma esfera, a um domínio da vida social.De acordo com a segunda concepção, quando falarmos em cultura francesa poderemos estar fazendo referência à lín-gua francesa, à sua literatura, aos conhecimentos filosófico, científico e artístico produzidos na França e às instituições mais de perto associadas a eles. Outro exemplo comum desta concepção de cultura é a referência à cultura alternativa, compreendendo tendências de pensar a vida e a sociedade na qual a natureza e a realização individual são enfatizadas, e que tem por temas principais a ecologia, a alimentação, o corpo, as relações pessoais e a espiritualidade. Ao se falar em cultura alternativa, incluem-se também as instituições asso-ciadas, como lojas de produtos naturais e clínicas de medicina alternativa, e, da mesma forma, seus meios de divulgação.

SANTOS, José Luiz dos. O que é cultura. São Paulo: Brasiliense, 1983. Coleção “Primeiros Passos”.

Conceito e evolução do trabalho G7

O trabalho está constantemente presente em nossas vidas e na realidade que nos cerca. A Física entende que trabalho é todo movimento concretizado. Assim, as máquinas trabalham, os animais trabalham e, obviamente, os seres humanos trabalham.

A diferença entre o trabalho humano e os outros trabalhos é que o do homem não só possibilita a satisfação das suas necessidades, através da exploração da natureza, mas também a modifica. Pode-se dizer que o trabalho é fundamental para que ocorra a chamada cultura humana, ou seja, tudo aquilo que é feito pelo homem através da relação entre o seu trabalho e a natureza.

Figura: Andre Gorz (1923-2007)

Segundo o filósofo austro-francês André Gorz, autor do livro Adeus ao proletariado, há dois tipos de trabalhos realizados pelo homem: o autônomo e o heterônimo. Suponhamos que um operário de uma empresa metalúrgica produza autopeças para carros durante os dias da semana e cultive hortaliças nos fins de semana. A atividade de fim de semana é o trabalho autônomo ou consciente, enquanto fabricar as peças de automóveis em troca de salário mensal é o trabalho heterônimo ou alienado.

Conforme se organiza o trabalho heterônimo, pode-se saber como os homens constroem sua vida econômica, política e social. Vejamos a trajetória histórica desse tipo de trabalho.
Durante a Antiguidade Clássica (Grécia e Roma), os homens livres, principalmente os proprietários de terras, vangloriavam-se de possuir escravos e de manter o ócio, ou seja, não trabalhar. Ser escravo é ser propriedade de outro homem. O labor (trabalho) era considerado indigno de seres libertos. Daí, poderíamos deduzir que no mundo clássico ser considerado humano era ser livre, até do trabalho e, para isso, ser proprietário de escravos.

A palavra “alienação” tem um conteúdo jurídico que designa a transferência ou venda de um bem ou direito. Mas, desde a publicação da obra de Rousseau (1712-1778), passa a predominar para o termo a ideia de privação, falta ou exclusão. Filósofos alemães, como Hegel e Feuerbach, também fazem uso da palavra, emprestando-lhe um sentido de desumanização e injustiça que será absorvido por Marx. Este faz do conceito uma peça chave de sua teoria para a compreensão da exploração econômica exercida sobre o trabalhador no capitalismo. A indústria, a propriedade privada e o assalariamento alienavam ou separavam o operário dos “meios de produção” – ferramentas, matéria-prima, terra e máquina – e do fruto de seu trabalho, que se tornaram propriedade privada do empresário capitalista.

COSTA, C. Sociologia: introdução à ciência da sociedade. 3. ed. São Paulo: Moderna, 2005 Na Idade Média, o trabalho passou a ser considerado como um castigo de Deus, ou a função da maioria dos camponeses. O vínculo do trabalhador com o senhor feudal era intermediado pela terra, pois o nobre necessitava do trabalho do servo e este, de terra livre dos invasores bárbaros.
Segundo Santo Agostinho, em seu livro Cidade de Deus, a vida terrena deveria se espelhar no reino de Deus para poder sobreviver frente à ameaça dos bárbaros pagãos. Ao clero, cabia a função de manter a comunicação entre os homens e Deus; aos nobres, fazer a guerra contra os inimigos do reino e, por fim, aos servos, trabalhar!

Com o advento do capitalismo, o trabalho começou a deixar de ser negativo entre a classe dominante, no caso, a burguesia. Transformou-se no principal valor econômico e o ócio perdeu a importância para o negócio, ou seja, a “negação do ócio”. A burguesia se constituiu como um grupo social ligado ao trabalho mercantil, isto é, ao comércio. Paulatinamente, os mais variados trabalhadores passaram a receber um salário mensal para, em troca, produzirem bens econômicos. Começava, dessa maneira, o papel do trabalho no capitalismo.

Figura:
O casal Arnolfini, de Jan van Eyck (1434). Este quadro, da época renascentista, retrata uma típica família burguesa da época, que encontrava cada vez mais espaço social por meio de sua ascensão econômica proveniente do trabalho mercantil.

Trabalho e sociedade G7

O trabalho humano é um dos principais meios de relações sociais, já que por meio dele é que transformamos a natureza para, assim, nos tornarmos seres produtores de cultura, o que também nos diferencia dos outros animais. Para a Sociologia, o estudo do trabalho e suas implicações são de fundamental relevância para a compreensão das sociedades.

O nascimento da Antropologia G7

A Antropologia é uma ciência que nasceu na Europa, na segunda metade do século XIX. Seu nascedouro correspondeu à expansão imperialista europeia sobre o continente africano. Os contrastes entre povos africanos e nações europeias contribuiram para estudos comparados à luz de teorias biológicas evolucionistas. Tais estudos se constituíram como a base de uma antropologia conhecida por Física. O contato com os povos africanos também foi instigante para os estudiosos da vida social, pois esses grupos não possuíam língua escrita, daí a necessidade de uma nova ciência para compreendê-los. Com ausência de uma cultura escrita, os antropólogos foram obrigados a descobrir outras maneiras de entender essa realidade social.

Antropologia"Ciência social que estuda as manifesta-ções culturais dos grupos humanos, assim como a origem e a evolução das culturas. São objeto de estudo da Antropologia a organização familiar, as religiões, a magia, os ritos de ini-ciação dos jovens, o casamento etc. A palavra antropologia – do grego antropus, homem, e logia, estudo – significa eti-mologicamente a ciência do homem. Divide-se em Antropo-logia Física, Antropologia Social ou Cultural e Antropologia Filosófica."

OLIVEIRA, Pérsio Santos de. Introdução à Sociologia. 25. ed. São Paulo: Ática, 2004, p. 240.

Entretanto, podemos apontar o nascimento de uma reflexão pré-antropológica que data da época da chegada dos europeus à América, que eles chamaram de “Novo Mundo”. A expansão ultramarina europeia dos séculos XV e XVI possibilitou o contato do homem europeu com culturas e povos totalmente distintos. Alargou-se a experiência da alteridade, ou seja, o conhecimento do “outro’’, o “outro’’ como sendo o diferente, o exótico, o atípico e o “não familiar”.

Os primeiros contatos fizeram surgir posições e comentários diversos, às vezes exaltando o estranho, às vezes diminuindo-lhe a importância. Opiniões desse caráter foram comuns nos séculos XVI, XVII e também no XVIII. O contato com outras culturas sempre foi marcado por considerações duplas e relativas: às vezes trata-se o índio – no caso brasileiro – como um ser agradável, ingênuo e solidário; às vezes ele pode ser classificado como um ser próximo da animalidade da natureza. Num momento existe uma exaltação do “outro’’; em outro momento existe uma depreciação desse “outro”.

Vejamos o exemplo de Hans Staden, um alemão que esteve na América portuguesa no século XVI e acabou prisioneiro de uma tribo tupinambá, na região do atual litoral de São Paulo. Sobre os nativos que conheceu, ele escreveu: “São ociosos, preguiçosos, de pouco trabalho, melancólicos, covardes, sujos, de má condição, rústicos, bestiais e vegetam como a umidade dos trópicos, são infelizes, pois vivem na escuridão das florestas”.

Um ritual antropofágico observado por Figura 6.1. Hans Staden (no alto da imagem, de barba).

Enquanto Staden manifesta uma visão “negativa” a respeito dos nativos, o padre espanhol Bartolomé de Las Casas, integrante da Ordem dos Dominicanos que viveu na América, escreveu sobre eles: “as pessoas aqui são nuas, bonitas, de pele escura e corpo elegante, são mansos e vivem em condições de igualdade, são cordiais e amáveis”.

Bartolomé das Las Casas é considerado um dos Figura 6.2. primeiros europeus defensores dos nativos da América.44
Entretanto, não podemos nos esquecer de que os representantes da Igreja Católica, fossem eles dominicanos, jesuítas ou quaisquer outros, mesmo preocupados em defender os índios, compactuavam a ideia de convertê-los em católicos, o que impunha aos nativos um processo de negação de suas crenças, ou seja, uma aculturação.

Na tentativa de fazer prevalecerem os valores católicos europeus sobre os nativos da América, ocorreu aquilo que chamamos de etnocentrismo, ou seja, a cultura europeia foi colocada no centro como a única correta, sendo imposta então aos povos ameríndios. Por etnia podemos considerar exatamente o conjunto de valores e crenças (a cultura) manifestado por um determinado povo. Por se tratar de uma imposição feita pelo dominador sobre o dominado, o etnocentrismo gerou situações de discriminação e preconceito étnico, o que, infelizmente, pode ser presenciado em nossa realidade social até os dias atuais. Por se tratar de um etnocentrismo específico da visão europeia, podemos classificá-lo como eurocentrismo.

Até o século XIX, as considerações pré-antropológicas só conseguiram emitir conceitos desse tipo, às vezes subjugando e inferiorizando as culturas diferentes, às vezes elevando e exaltando a condição cultural do desconhecido, ainda que a primeira visão prevalecesse sobre a segunda. Foi sob esse olhar que a Antropologia se estabeleceu como ciência no século XIX: muito mais afirmando do que negando as proposições preconceituosas da pré-antropologia.