quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Foto Gilberto Freyre
Segundo Freyre, a formação da cultura brasileira é o resultado do sincretismo cultural processado entre o português, o índio e o africano escravo, que acabou originando uma cultura ímpar, diferente na sua formação, fortemente mestiçada e sincretizada, uma cultura marcada pela diversidade de contribuições culturais do negro, do índio e do português, que acabou por constituir um conjunto de expressões culturais diversas.
A constituição da cultura brasileira seria resultado desse processo de sincretismo e miscibilidade; o brasileiro seria resultado de um intercurso racial e cultural democratizado e do encontro das culturas, um encontro democrático, ausente de conflitos. Entretanto, alguns pensadores se contrapõem à ideia de “democracia racial” devido ao fato de esta deixar de lado o fenômeno do preconceito racial e cultural existente no Brasil; um preconceito não declarado, mas inculcado no inconsciente coletivo.
Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982) foi outro intelectual que abriu uma nova discussão acerca da sociedade brasileira na década de 1930. Em 1936, ele publicou Raízes do Brasil, uma obra de orientação weberiana que enfatiza os aspectos culturais do Brasil para a compreensão do nosso desenvolvimento social, político e econômico. É dele o conceito de “homem cordial” para caracterizar o brasileiro.

As primeiras concepções teóricas 1.sobre a sociedade brasileira: evolucionismo versus culturalismo G9

Compreender o processo de constituição da sociedade brasileira já era uma preocupação de alguns intelectuais brasileiros no final do século XIX e no início do século XX. Ao analisarmos esse período, é importante ressaltar dois dados: primeiro, a abolição do modelo escravista em 1888, lançando o negro numa sociedade autoritária e racista; segundo, a predominância das teorias evolucionistas europeias. É esse panorama histórico que marca as primeiras reflexões dos brasileiros sobre a sua sociedade.
Alguns intelectuais brasileiros, como Sílvio Romero, Nina Rodrigues e Euclides da Cunha, discutiam nesse período a problemática da identidade nacional e da cultura brasileira. Ficam claras nesses pensadores as influências das teorias racistas e evolucionistas; percebe-se um impacto muito grande do positivismo de Comte e do darwinismo social.
Nesse sentido, os temas analisados por esses pensadores, como a religião africana, os movimentos messiânicos e a composição racial do brasileiro, são tratados sempre à luz dos conceitos racistas e evolucionistas.
Em 1933, surgia no Brasil uma obra inaugural sobre a sociedade brasileira vista pelo viés cultural: Casa Grande e Senzala, de Gilberto Freyre (1900-1987). Essa obra resultou da tese de doutorado de Freyre, cuja orientação coube a Franz Boas. Nesse livro, Gilberto Freyre procura se afastar da visão evolucionista sobre a sociedade brasileira e a analisa exatamente pela miscigenação cultural, afirmando ser essa a nossa principal característica.

Sociologia do Brasil G9

A partir do que foi discutido desde o capítulo um até aqui, vamos agora pensar sobre algumas questões acerca da sociedade brasileira fundada pelos portugueses no século XVI. Abordaremos as diferentes visões teóricas sobre a nossa formação social, assim como o desenvolvimento das relações de trabalho e do Estado brasileiro, buscando perceber algumas “permanências” que existem hoje em nossa realidade social como frutos do tipo de colonização que sofremos.

Cultura e sociedade G9

Um dos grandes ramos das Ciências Sociais, além da Sociologia e da Ciência Política, é aquele que se dedica aos estudos da cultura desenvolvida pelos seres humanos: a Antropologia. Logo, neste capítulo, estudaremos o significado social de cultura, além do nascimento da Antropologia e de suas correntes de investigação. Outra questão a ser abordada, que é de extrema importância para compreender as relações sociais contemporâneas, será a da relação entre produção cultural e produção capitalista. Bom estudo!

terça-feira, 7 de setembro de 2010

G8 O estruturalismo

Vimos até aqui como a Antropologia procurou respostas objetivas para poder entender os povos africanos e asiáticos, por causa do processo de expansão neocolonialista. Também estudamos que as diferenças entre estes povos e os europeus eram significativas. Assim, foram elaboradas teorias sociais que esclareceram como estes povos organizavam suas relações sociais e estabeleciam os seus diversos valores.

Uma das teorias expostas foi o evolucionismo, que estabelecia uma sequência de etapas de desenvolvimento, na qual o último e superior estágio seria a sociedade industrial europeia. O funcionalismo foi a teoria posterior que criticava o eurocentrismo do evolucionismo e propunha uma pesquisa participante para que se obtivesse a compreensão das organizações sociais distintas das existentes na Europa.

Porém, uma nova teoria de antropologia cultural surgiria no século XX, o estruturalismo, que procurou corrigir as falhas existentes no funcionalismo.

A origem do estruturalismo vem da linguística, ciência que estuda a linguagem através da teoria de um consagrado pensador, Ferdinand de Saussure, criador da Semiologia, ciência que estuda os signos em geral. Segundo Saussure, os homens possuem várias linguagens, como gestos, objetos, sons e palavras escritas e faladas, que, por sua vez, possuem sentidos, e estes configuram uma estrutura inconsciente de comportamento humano.

Podemos entender o estruturalismo como uma teoria que procura o conhecimento da realidade a partir da pesquisa de aspectos subjetivos e imaginários dos homens e de seus respectivos grupos sociais. A antropologia cultural também sofreu influência dessa teoria e seu maior expoente é Claude Lévi-Strauss.

Lévi-Strauss é belga, nascido em 1908. Formado em Direito, foi professor de Filosofia até vir para o Brasil em 1934, para lecionar na USP, até 1937. Realizou estudos sobre os índios bororos durante sua permanência no Brasil. Seus livros mais conhecidos são Tristes trópicos, As estruturas elementares de parentesco, Antropologia estrutural e O pensamento selvagem.

A antropologia estrutural de Lévi-Strauss tem como princípio maior o reconhecimento da existência de uma estrutura social. É através desta estrutura que ocorrem as relações entre elementos, grupos e instituições de uma comunidade qualquer.

G8 O funcionalismo

A visão de Franz Boas acerca do trabalho antropológico fez surgir uma corrente de pensamento conhecida como funcionalismo. Partindo do princípio de que qualquer sociedade possui sua lógica de integração e é composta por partes interdependentes, este sistema social se define pela função de satisfazer suas necessidades de alimentação, defesa e habitação. Assim, podemos compreender uma sociedade como não primitiva por não comungar do casamento monogâmico, mas saber que a poligamia se executa por ser importante na manutenção desta mesma sociedade.

Para poder conhecer realmente estes povos e o funcionamento de sua organização social, é necessário usar um método de pesquisa que possa ser capaz de dar conta de todos os detalhes, por mais insignificantes que possam parecer. O método adotado foi o do trabalho de campo, sugerido por Boas, e que aqui ficou sendo conhecido como método da observação participante. Consiste na inclusão do pesquisador na realidade social em estudo, para poder captar as informações do objeto de estudo em questão sem correr riscos de se deixar levar pelo etnocentrismo (achar seu povo superior aos outros) ou mesmo pelo eurocentrismo (considerar a sociedade europeia como modelo e padrão social).

Buscando superar os resultados preconceituosos e racistas obtidos pelos evolucionistas, a teoria funcionalista tem as condições para apresentar uma concepção mais científica das sociedades e povos diferentes da cultura europeia. Seus principais autores são o polonês Bronislau Malinowski (1884-1942) e o inglês Alfred Radcliffe-Brown

G8 Do evolucionismo à diversidade cultural

No início do século XX, um pensador alemão chamado Franz Boas (1858-1942) revolucionou a prática antropológica, criticando a antropologia de gabinete exercida principalmente por Frazer e Tylor.

Para Boas, o antropólogo, ao analisar as outras culturas para compreender a diferença, não se deve partir do ponto de vista de sua cultura e sociedade; pelo contrário, o antropólogo deve partir para a convivência direta com a cultura a ser pesquisada, a fim de perceber as suas peculiaridades.

Franz Boas coloca o trabalho de campo como prática necessária para a compreensão exata e neutra das outras culturas; a prática etnográfica torna-se fundamental, pois a etnografia proporciona uma descrição antropológica densa. O antropólogo deve anotar tudo o que ele observa e ouve no trabalho de campo para, desta maneira, aproximar-se de uma interpretação impessoal sobre as culturas diferentes.

Nesse momento, as culturas exóticas perdem o aspecto de culturas desconexas e incompreensíveis e passam a receber uma coerência e funcionalidade, que só foi apreendida através da aproximação e do contato direto do antropólogo com a cultura dita “estranha”.
Uma das primeiras definições de cultura apareceu na obra do antropólogo inglês Edward B. Tylor (1832-1917). De acordo com esse autor, cultura é o conjunto complexo de conhecimentos, crenças, arte, moral e direito, além de costumes e hábitos adquiridos pelos indivíduos em uma sociedade. Trata-se de uma definição universalista, ou seja, muito ampla, com a qual se procura expressar a totalidade da vida social humana, a cultura universal.Já o antropólogo alemão Franz Boas, que desenvol-veu a maior parte de seus trabalhos nos Estados Unidos, tinha uma visão particularista. Ele pesquisou as dife-rentes formas culturais e demonstrou que as diferenças entre os grupos e sociedades humanas eram culturais, e não biológicas. Por isso, recusou qualquer generalização que não pudesse ser demonstrada por meio da pesquisa concreta.

TOMAZI, Nelson Dacio. Sociologia para o Ensino Médio. São Paulo: Atual, 2007, p. 171.

Assim, o conceito de desigualdade cultural é substituí-do pelo conceito de diversidade cultural; agora a análise antropológica ganha um aspecto particularista, isto é, as sociedades devem ser compreendidas nas suas especificidades, contrariamente à análise universalista dos evolucionistas.

Surgiram daí outros pensadores, como Bronislaw Malinowski, que consolidou o método funcionalista, sobre o qual falaremos a seguir. Franz Boas também foi o orientador da tese de doutoramento do brasileiro Gilberto Freyre, cuja obra tornou-se fundamental para o estudo da sociedade brasileira. Falaremos de Freyre mais à frente.